quinta-feira, outubro 28, 2010

Grito!

Porque não me salvas? Só me arranhas e me matas. Sai da frente, deixa-me passar, deixa-me ir! Eu sou livre, sem ninguém, sem temer. Eu sou triste, sem querer. Sou pequena, sim senhor, sem pudor! Sou maior, de coração, de toda a dor! Vou sair, cegar-te. Vais viver sem saber quem te amou!

terça-feira, abril 20, 2010

Tirar-te daqui.

Posso entrar? Queria colocar neve nos teus olhos, vê-los chorar. Salpicos de apertados plasmas. Pinto os meus dedos de vermelho. Quero magoar-te com eles. Acender velas, queimar-te todos os pêlos. Nunca mais te reconhecer. Matar-te. Volta a chuva e molha-te o corpo inanimado. Qual deles? Quem morreu mais? Grito! Há difíceis expulsões de silvas. Ervas danadas. Falte a água, seque a chuva! (Que escrevo eu?) Fica. Rasga-me a boca. Fecho os meus olhos depois de o sol entrar. Ilumino-te mais do que brilhas. Alimento-te com restos de conchas. És praia onde estalo as peles, em todas as suas camadas.

terça-feira, agosto 11, 2009

Águas mil

A sola do sapato esgravata o chao num ritmo militar, Bastam breves segundos, para assassínios em massa cometer um tal passo acertado. O homem saiu de casa e como sempre dirigiu-se para a rua sem fundo. Sentiu-se estranho quando viu uma violenta onda, daquelas que o nosso mar tanto gosta de oferecer, a afrontar-se na sua direccao. Susteve a respiracao e por um reflexo reflexivo os bracos e pernas estendeu, antipodas na horizontal, e mergulhou. Embora visivelmente encharcado, um rubor intenso cobriu-lhe as faces quando deu conta dos transeuntes, esses secos e com sorrisos esbocados de esguelha, Nesse momento percebeu que estava só. Que a onda e seus passos seus eram. Voltou a casa para mudar de roupa. Depois de despistar sua esposa encostando-se aos rodapés para evitar explicacoes, saiu para uma segunda tentativa. Seus olhos entao brilharam de espanto quando ao olhar em seu redor do cimo das escadas um imenso oceano avistou. Suas lágrimas eram doces gotas vertendo emocoes sobrepostas sobre os peixes...Entrou novamente... Agarrou sua esposa com o mais doce e intenso fervor de todo o seu sempre emocional. A fonte da sua existencia ali tinha estado à sua espera. Amou-a sem tempo nem espaco e voltou a amá-la infinitas vezes no meio do nada. Quando as quotidianas dimensoes voltaram, bebiam chá de amoras no jardim. Os transeuntes passavam com caras engelhadas. Tudo voltou ao normal.

sexta-feira, maio 22, 2009

Alto arame farpado. Galhos de carvalho fracos para um corpo rasgado. Abres a boca nas noites abafadas, mas o céu não pinga. Caminhas entre os candeeiros de mãos escaldantes. Sofrem de artrite por estática. Imitam a lua e apagam-na. Nesta prisão de erva o ser fuma-se em poucos instantes. Somos de cinza. Sopra-me.

sexta-feira, abril 03, 2009

O tenente e o cão...

Ao montar a sua Cabala
acabou por achar uma bala
dentro do cano do revólver...
Passo atrás, volver!
Decretou imponente
o trágico e temível tenente...
Ao que obedeceu o pelotão,
sem recorrer à razão,
nem render a ração...
Todos sabiam que as ordens
impostas por novas mães
eram para ser respeitadas,
sem serem questionadas...
Todos sabiam que a patente
distinta no distinto tenente
era o seu ónus de poder,
sem ter o bónus do prazer...
Poucos se aperceberam
que por lá havia um cão
que era dado a vaguear
e, desobediente, a viajar
por outras paragens,
por não ver novas paisagens...
Por se fartar do cenário
e do habitual trino do canário...
Por se fartar da rotina semanal...
Por se fartar de sempre ser menos mal
e nunca chegar ao muito bem,
como sempre ambicionou também...

terça-feira, março 24, 2009

Espera esperançosa...

Sem saber o que esperar,
sem saber o que pensar,
assim vou continuando,
assim vou esperando...

Sabendo o que fiz,
sabendo o que quis,
não posso desesperar...
Não posso não esperar...

Pois ainda continuas,
como telas nuas,
a preencher as ruas...

Pois ainda me revejo
no teu doce beijo
e digo-o sem pejo...

domingo, março 22, 2009

Discursos e discussões

Quando te vejo vir
ainda me apetece sorrir...
Por pensar que retribuis,
que me retiras pinturas azuis
e antigas desilusões...
Penosas e castas castrações
de um sentir exacerbado
e por demais idealizado...
Talvez por isso exigente,
tornando-se inconsequente,
insípido e entediante...
para a metade enervante...
Gostava de poder flutuar,
como tu, pelo ar...
Deixando apenas a brisa
que vem da tua guisa
de andar, estar, falar,
olhar, tocar e calar...
Mas é isso que me faz
cair, como sempre incapaz
de deixar rolar
o que pode ou não passar...
A minha fábula é bêbeda
e celeste a abóbada,
quero ultrapassar os céus
e não pensar em réus...
Apenas algo mais ambicionar,
não desistir de levantar
após uma e outra queda...
Por ver em ti valor...
Por ver em ti o calor
a que poderia retribuir
sem me imiscuir...

Mas ao fazer tanto
e não vendo quanto
isso te aborrece,
o tempo arrefece,
apesar da breve primavera...
Deixo-te como uma fera,
por não respeitar o luto
e portar-me como um puto,
quando devia ser astuto
e não tentar o proibido fruto...
Acabo por devolver Inverno
ao que já foi inferno
e augurava agora estação
mais próxima do Verão...

Tentei evitá-las,
mas não consegui calá-las
antes de as ter de pedir...
antes de perder o sorrir...
Sou eu que tenho a culpa...
Sou eu que peço desculpa...

Vício bêbedo...

Por mais que tente,
insistente e demente,
proporcionar prazer
e bem estar ao ser...

Por mais que intente,
puro e inconsciente,
pôr no sítio certo
o peito aberto...

Pareço nunca acertar...
Por de mais exagerar,
pareço às vezes magoar...

Pareço sempre falhar...
Por de menos calar,
pareço bruto como o mar...